O importante é competir nos negócios
Por: Ivan Marconato
O ideal olímpico proposto por Pierre de Frédy (Paris, 1 de janeiro de 1863 — Genebra, 2 de setembro de 1937), mais conhecido pelo título nobre de" Barão de Coubertin", um pedagogo e historiador francês, tendo ficado para a história como o fundador dos Jogos Olímpicos da era moderna, foi o de confraternizar os povos e celebrar a paz entre os países. Confraternização mostrada no lema de que o importante é competir.
Entretanto, com o passar do tempo, os jogos olímpicos são vistos mais como um negócio, e passaram a ser regidos pelas mesmas regras usadas no mundo corporativo. Derrubando assim o pensamento de seu criador. “Existe uma concorrência desleal, da vitória a qualquer preço, a lei da vantagem competitiva, desleal por excelência, valores diretamente opostos aos olímpicos” afirma Kátia Rubio, Professora da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo. É assim que os Jogos Olímpicos passaram a ser tratados depois que se percebeu que eles poderiam ser um grande negócio. E como a inteligência social é rara no mundo em que o dinheiro é o motor da existência, o abismo entre a celebração e o negócio olímpico fica mais profundo a cada quatro anos.
Kátia Rúbio é professora de Educação Física da USP
Juca Kfouri que é sociólogo e jornalista esportivo declarou à revista cientifica Coletiva, que o Brasil não está preparado para realizar as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. Para ele, a razão é simples. “Só agora, passadas as Olimpíadas de Londres, o Ministério dos Esportes anunciou a intenção de dotar o país de uma política nacional de esportes, sem levar em conta que os investimentos num ciclo olímpico não podem se restringir aos quatro anos que antecedem a realização do evento”.
Anéis olímpicos que representam a união dos cinco continentes
Juca Kfouri Fonte: Guia do Estudante Editora Abril
Somente nos anos em que a Olimpíada é disputada, é que questões como o investimento no esporte é discutido em nosso país. Afinal, investir em esporte significa economizar em saúde. A cada R$ 1 investido em práticas esportivas, se economiza R$ 4 em recursos destinados à saúde.
Esporte é política de estado
E nossa saúde pública não anda nada bem das pernas. Então, o princípio geral da política internacional do esporte deveria ser aplicado com seriedade na prática em terras nacionais: “É inegável que o esporte desempenha papel fundamental na formação pessoal e constitui tema importante dentro de uma política de Estado, muito em função do mega-eventos esportivos, capazes de trazer vários benefícios ao país anfitrião, bem como o bem estar da população em geral”
Em declaração a mesma publicação científica, Luiz Henrique de Toledo, antropólogo, professor e pesquisador da Universidade Federal de São Carlos. Sociólogo, mestre em ciências sociais e doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo, afirmou que o termo Megaevento consiste numa renomeação isenta de símbolos, ou seja, tenta-se definir algo que ficou maior, mais complexo e mais universal. “Esse processo de renomeação dos certames internacionais historicamente conhecidos como Copa do Mundo em megaeventos esportivos diz algo mais para além da adequação aos novos tempos de modernização da indústria do entretenimento numa conjuntura mundializada” afirma o estudioso.
Luiz Henrique de Toledo é um estudioso do futebol e sua relação com a sociologia. Foto: www.ludopedio.com.br
Nota-se pelo que é divulgado na grande imprensa que há um grande esforço e mobilização de recursos, aliado a uma noção que derruba o caos em que se consiste a política de montagens desses eventos. “Um megaevento como caos é uma possível definição antropológica que ofereço nesse momento”, afirma Toledo. E o que se lê, se vê e se escuta o tempo todo é que tudo pode dar errado, ou estaria no limite da viabilidade técnica e política, expondo o país à vergonha perante o resto do mundo. Entretanto, o Brasil, sem contar com a alta lucratividade com a realização da Copa e da olimpíada, o tal legado tanto divulgado na mídia, já se garantiu junto à FIFA. Ou seja, o país não corre nenhum risco de perder o direito de sediar o evento, a dois anos de sua cerimônia de abertura.
Medo de corrupção
O temor popular é que a política de transparência com relação aos recursos utilizados para modernização do país, em termos de infra-estrutura, é pouco divulgada. Por isso, o governo apressou-se em resguardar-se, ao aprovar a Lei Geral da Copa. Com isso, há a esperança de que a utilização desses recursos para a realização tanto do Mundial de futebol, quanto da olimpíada sejam amplamente divulgadas à população. Como escreveu George Orwell, “num mundo onde é normal falar mentiras, a pessoa que fala a verdade está cometendo um ato revolucionário” Não é à toa que Orwell, autor de “A revolução dos Bichos” obra que serviu de inspiração para o surgimento de programas de reality shows de sucesso como o Big Brother. Atitude, aliás, bem condizente com os princípios da administração pública no Brasil. Neles os funcionários têm que fazer dentro da Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência, ou LIMPE, um termo comum entre os funcionários públicos.
Considerações sobre a política do esporte
or que gostamos de esporte? Todas as coisas em nossa vida são motivadas pela competição e organizações como a Federação Internacional de Futebol Association, a FIFA, e o Comitê Olímpico Internacional, têm mais países filiados do que a própria Organização das Nações Unidas, a ONU. Estudos comprovam que o Produto Interno Bruto, PIB da Alemanha, cresceu aproximadamente 0,5% durante a Copa do Mundo de 2006, e esse número representa um grande salto em termos econômicos.
As pessoas que comandam o esporte no Brasil, mais conhecidos com “cartolas”, ou dirigentes esportivos se perdem na utilização do dinheiro, ainda mais com recursos públicos. Mas, ser escolhido como o país sede nos dois próximos eventos esportivos mais importantes do mundo, é algo muito bacana, principalmente no aspecto esportivo. Aliás, uma oportunidade única para que o país avance também em termos sociais e econômicos. É o chamado legado que eventos como a Copa do Mundo e a Olimpíada deixam para o país.
Mas na cabeça de milhares de cidadãos, amantes ou não dos esportes, existe o temor de que os recursos utilizados para a modernização de estádios, cidades e infra-estrutura em geral, sejam mal administrados, ou seja, que haja superfaturamento nessas obras. Entretanto, o exemplo ocorrido com a Alemanha em 2006, após a realização da Copa do Mundo, pode fazer com que o Brasil, ao sediar a Copa do Mundo e também a Olimpíada tenha crescimento sócio-econômico. Será que a prática ocorrida na Alemanha, acontecerá de fato no Brasil? E se houverem abusos referentes à utilização de recursos públicos, os culpados serão punidos de maneira exemplar?
Esporte é Cultura
Todavia sabemos que a prática esportiva inicia-se na escola, e é sim antes de tudo, uma questão de educação. Entretanto, desde os anos 80, nas escolas públicas do estado de São Paulo, a educação física não era encarada com seriedade. Afinal, poucos são os professores que trabalhavam os fundamentos dos esportes coletivos com bola. Os exercícios físicos e as corridas então eram atividades muito raras, para não dizer completamente ausentes. O slogan das transmissões dito pelos locutores Luiz Noriega e José Góes nos anos 80, na TV Cultura, não era respeitado pelos nossos governantes. “Esporte é Cultura”. Os salários dos professores em geral, e, principalmente na educação básica são muito baixos. Então, como cobrar resultados e encarar o esporte olímpico brasileiro como sendo de alto rendimento? Quando abnegados surgem com conquistas internacionais de peso, eles devem ser reverenciados, e muito, tanto pela torcida, quanto pela imprensa. Afinal, o apoio governamental e financeiro aos esportes ditos olímpicos, é quase ausente no Brasil.
Abaixo imagem do Tatu-bola, o mascote da Copa do Mundo de 2014, que será disputada no Brasil
Fonte: www. portalamazonia.com.br
Ivan Marconato é jornalista pela FMU-SP, e pós graduado em Letras pela UNIBAM. Trabalhou em empresas de comunicação como a NET, na qual escrevia para o Jornal Em Foco. Foi finalista do Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo em 1999. Escreve para a Revista Visão, publicação trimestral da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo. Além disso, cursa pós-graduação em Jornalismo Esportivo e negócios do esporte na FMU e escreve para o site www.superquadranews.com.br.